CONTRA-GOLPE

SOBRE SOUNDTRACK TO A COUP D’ETAT, DE JOHAN GRIMONPREZ

SOUNDTRACK TO A COUP D’ÉTAT TRANSFORMA A SINCRONIA SOM-IMAGEM NUMA TÁTICA DE GUERRILHA AUDIOVISUAL. SE NO MOMENTO HISTÓRICO EM QUE O FILME SE FOCA A CIA USOU O JAZZ COMO ARMA CULTURAL, GRIMONPREZ DEVOLVE ESSES SONS À HISTÓRIA AO DESSINCRONIZAR O DISCURSO DO PODER E AO REFAZER UMA MONTAGEM DA MEMÓRIA. O FILME PROVA QUE A MONTAGEM NÃO É SÓ TÉCNICA, MAS ÉTICA – E QUE A VERDADEIRA SINCRONIA NO CINEMA POLÍTICO É AQUELA QUE DESAFIA O ESPECTADOR A OUVIR O QUE AS IMAGENS NÃO CONSEGUEM DIZER. SEM NOVIDADE, MAS PARA NOS RELEMBRAR, PARA GRIMONPREZ É IMPORTANTE TAMBÉM DESTACAR O INVERSO DESTA IDEIA: ABRIR OS OLHOS PARA O QUE É O ARQUIVO.

SOBRE O TRABALHO DE ARQUIVO NESTE FILME PODEMOS RELEMBRAR O TRABALHO DE ARTISTAS COMO CHRIS MARKER, GODARD, HARUN FAROCKI, OU ATÉ MESMO MAIS RECENTEMENTE DE ADAM CURTIS (E ANTES DE TODOS ELES, NUMA CITAÇÃO RECORRENTE NO FILME, RENÉ MAGRITTE). É IMPORTANTE PARA UMA APROXIMAÇÃO REAL E ÉTICA DA HISTÓRIA A DESNATURALIZAÇÃO DA HISTÓRIA AO PARTIR DAS IMAGENS. E, COMO VEMOS EM SOUNDTRACK TO A COUP D’ÉTAT, BASTA OLHAR ATENTAMENTE PARA PERCEBER QUE A VERDADEIRA HISTÓRIA NÃO FOI A QUE NOS CONTARAM, E MAIS AINDA: HISTÓRIAS HÁ MUITAS. CABE A NÓS TER A RESPONSABILIDADE DE PERCEBER O QUE NOS MOVE, E QUANDO NOS DEIXAMOS MOVER.

MAIS DO QUE UM DOCUMENTÁRIO, SOUNDTRACK TO A COUP D’ÉTAT É UM CONTRA-GOLPE AUDIOVISUAL – UMA TENTATIVA DE PASSADOS TANTOS ANOS PODERMOS TER UM MOMENTO DE CATARSE COM A VERDADE, OU PELO MENOS COM A DESILUSÃO.