SOBRE CLOSE-UP, DE ABBAS KIAROSTAMI
NA CENA EM QUE SABZIAN, EM REENCENAÇÃO DE COMO FORA APREENDIDO, SE APROXIMA DA JANELA DA MANSÃO DOS AHANKHAH E A CÂMARA MEIO QUE O SEGUE ENQUANTO FOCA O FUNDO DO CORREDOR POR ONDE SAIRA O PATRIARCA DA FAMÍLIA, acontece um verdadeiro milagre do cinema. ESTE MOVIMENTO DESTACA-SE DE TODOS OS OUTROS NO FILME, PORQUE É UM CURTÍSSIMO TRAVELLING QUE É UTILIZADO NA SUA PLENITUDE. ESTE MOMENTO É UMA PEDRA NO ESTÔMAGO PARA QUEM ESTÁ IMERSO NAQUELA CARICATA HISTÓRIA, APRESENTADA NO FILME NUMA SÉRIE DE DIFERENTES TÉCNICAS DE ESTILO “DOCUMENTAL”, MESMO QUANDO ASSUMIDAMENTE SE TRATAM DE REENCENAÇÕES, QUE GANHA ALI A DIMENSÃO DE UMA VERDADEIRA TRAGÉDIA.
—
A ILUSÃO PELO QUE É CONHECIDO EM GRANDE MEDIDA O FILME, DE CONTRAÇÃO ENTRE FICÇÃO E NÃO FICÇÃO, É ACRESCIDA PELA SUA NATUREZA APARENTEMENTE MINIMALISTA. O FILME PARECE ACONTECER APÓS UMA TENTATIVA FALHADA DA PRODUÇÃO DE UM OUTRO FILME QUE NUNCA EXISTIU. ESTA TÉCNICA NÃO É EXCLUSIVA A CLOSE-UP, NEM sequer DENTRO DA PRÓPRIA OBRA de abbas kiarostami. MAS É NESTE FILME QUE DE UM MODO MAIS EFICAZ RESULTA. ISTO DEVE-SE ESSENCIALMENTE AO FACTO DE, EFETIVAMENTE, CHEGANDO AO FINAL DO FILME, NÃO IMPORTAR MESMO AS MOTIVAÇÕES DO REALIZADOR QUE QUERIA FAZER ESTE PRIMEIRO FILME QUE NÃO EXISTIU. O QUE IMPORTA É QUE O REALIZADOR DESEJA FILMAR, E MAIS, DESEJA FAZER UM FILME. O REALIZADOR, COMO QUALQUER ARTISTA, DIRIA ATÉ VEZ COMO QUALQUER SER HUMANO, DESEJA CONGELAR ALGO NO TEMPO, ATRAVÉS DA MEMÓRIA E DA EXPERIÊNCIA. E, QUESTIONA-NOS KIAROSTAMI NESTE FILME, QUE MELHOR MEIO ARTÍSTICO PARA CONGELAR MOMENTOS, DIRIA MESMO CRISTALIZAR MOMENTOS PARA UTILIZAR A EXPRESSÃO DE GILLES DELEUZE, QUE O CINEMA?
ADAPTADO DA FOLHA DE SALA NR. 44 DO CINECLUBE DE POMBAL, 22/05/2024
120 DIAS DE CINEMA 