Mouse Heaven & Plastic Semiotic [& Barbie]

mouse heaven e plastic semiotic tratam-se de Duas diferentes abordagens ao excesso – diria mesmo montão – de bonecada e às quinquilharias de plástico. plástico, sim, pelo menos no caso do filme do radu jude, pois no filme de kenneth anger somos agraciados com gamas vintage desta tralha, e, por conseguinte, materiais como chumbo ou metal. nada mal. neste último filme, a tralha é de uma organizada e arquivada coleção. no primeiro, aparentemente tirada de um velho baú do sótão.
Ambos representam em gesto/tratamento mais que digno do que as figuras e elementos dos seus filmes significam, um ajuste semiótico que nos ajuda a lavar os olhos da catadupa de hipocrisia do seu uso na cultura pop. E este outro lado, sendo não o seu lado verdadeiro, mas sim um lado que coabita com o que lidamos no nosso quotidiano, não é necessariamente revelador de algum tipo de natureza, origem ou propósito daqueles objetos. muito menos revelador de qualquer coisa sobre a sociedade para a qual, francamente, em 2024, já nos estamos a marimbar. é um filme que trata estas coisas como coisas, e isso basta para que em ambos haja um deslindar de significados que provoque no espectador montes de interpretações, umas mais giras outras menos giras, umas mais engraçadas e outras mais deprimentes, que no fim se formam numa espécie de sandes – ou pelo menos representações entre duas côdeas de filme. sandes estas que fazem lembrar o famoso ‘lapso de tradução’ do dicionário filosófico de voltaire de bruno da ponte para a editorial presença, onde falava em nota de autor de deliciosas sandes de merda.
seja a boneca barbie sem roupa à canzana em plastic semiotic ou a violenta masturbação do boneco do rato mickey avariado em mouse heaven, uma coisa é certa: são filmes como estes que me fazem sentir sujo de alguma vez ter dito que esse novo filme da greta gerwig vale mais que um peido proteico, que é ao menos sinal de ter almoçado bem. pior, depois de rever estes filmes os meus sonos têm sido atormentados, não pela índole satanico-sexual de anger sobre o rato mickey ou do pessimismo generalizado de jude, mas pela cena da margot robbie a encontrar a velha caduca – suposta criadora da aberração – naquele set minimalista quase vazio, provavelmente simbólico do que ia nas monas de todos os que estavam no set quando decidiram fazer aquilo. mas vá, admito, o filme tem pelo menos uma excelente cena de serenata.